As Magníficas II




Próximo de completar 100 anos da Semana de Arte Moderna Anita Malfatti e Tarsila do Amaral continuam sendo ícones, as magníficas das artes plásticas do Brasil.

O protagonismo feminino de Anita Malfatti na Semana de Arte moderna de 1922 e, após, com a atuação de Tarsila do Amaral é simbólico no ingresso e desenvolvimento profissional das mulheres como pintoras, produtoras de bens simbólicos e mercadológicos da Arte na era moderna no país.

Até o século XIX, as artes, para o público feminino eram classificadas como prendas, como um “refinamento do espírito” num tempo que ás mulheres não era permitido trabalhar fora ou ter outra atividade que não fosse os trabalhos domésticos e os cuidados com o marido e filhos. Quando as mulheres começam a se dedicar ás artes os temas desenvolvidos por elas é tímido, considerado próprios de seu mundo, tais como: pintura de flores, paisagens, natureza morta, pinturas decorativas e cópias de obras de destaque europeu realizadas por homens. A voluptuosidade, a sensualidade, a inquietação e a curiosidade feminina não são permitidas nas suas representações.

A vida de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral  vem de outro lugar pois foi favorecido, sobretudo, pelos respectivos meios familiares  do qual elas fizeram parte; famílias abastadas e cultas, com relações e transito no campo artístico. Anita Malfatti e Tarsila do Amaral tiveram oportunidade de viajar pelos EUA e Europa. Tiveram oportunidade de aprender com professores renomados, visitar galerias e museus e ter outras perspectivas para desenvolver a  visão delas do mundo refletido na sua  Arte.

  

 Anita Catarina Malfatti nasceu em São Paulo, 1889-1964. 

Foi pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora ítalo-brasileira. É considerada pioneira da Arte Moderna no Brasil. Filha de engenheiro imigrante italiano e pintora norte-americana. Estudou no Externato São José e terminou seus estudos no Mackenzi College. Era poliglota. Estudou na Alemanha o expressionismo alemão.  

A história da Arte Moderna no Brasil tem como marco inicial a exposição de Anita Malfatti em São Paulo, no ano de 1917.  As pinturas Tropical, O Homem Amarelo, A Mulher de cabelos Verdes,  A Boba, O Farol e A Ventania são obras que foram expostas entre os anos de 1917 a 1922 deixando os espectadores “de boca aberta” diante da novidade estética apresentada.  

Na Semana de Arte Moderna de 1922 expôs seus quadros á críticas rigorosas. Nos EUA vivenciou novas experiências estéticas-ideológicas e trouxe na sua bagagem elementos para mudar/transformar o pensamento da arte no Brasil. Viajou por diferentes cidades da Europa onde fez vários desenhos, aquarelas e pinturas. Ao voltar para o Brasil ajudou a inaugurar o SPAM- Sociedade Pró-Arte Moderna- Trabalhou como professora ensinando suas técnicas de desenho e pintura.

Anita Malfatti era atenta ao debate social-artístico paulistano. A pauta do nacional na arte sensibilizou-a e dela ela quis fazer parte, criando estratégias para que a Arte fosse valorizada como representação original da cultura brasileira.

Tarsila de Aguiar do Amaral nasceu em Capivari, São Paulo -1886-1973- 

É considerada uma das principais artistas da América Latina. Nascida numa família de fazendeiros  pode estudar na França e ver as novidades da arte européia na década de 1920. Foi desenhista, pintora, pesquisadora  e tradutora brasileira, uma das personalidades da primeira e segunda fase do movimento modernista no Brasil ao lado de Anita Malfatti. Livre das críticas iniciais do modernismo o quadro ABAPORU, 1928, inaugurou o movimento antropofágico nas artes plásticas.

Na Europa Tarsila do Amaral foi aluna de Fernand Léger. Aprendeu a utilizar as cores puras, as linhas simples, a captação  sintética, sentimental e ingênua da realidade trazendo essa ideia para a pintura brasileira. Os elementos locais, indígenas e afro-descendentes foram utilizados na sua representação poética. O debate iniciado em 1922 sobre a construção de brasilidade fez com que Tarsila desenvolvesse uma arte própria dando visão as pesquisas que Oswald de Andrade e Mario de Andrade iniciaram. Viajou pelo Brasil para conhecer o popular,as paisagens do interior e do subúrbio, da fazenda e da favela povoada por indígenas e negros, personagens de lendas e mitos, repletas de animais e plantas, reais ou fantásticas.  Através de sua produção plástica demonstrou a tensão existente entre o  mundo urbano e o mundo rural. Questões sobre raça, classe e colonialismo são apontadas por ela nas suas pinturas.

 



Imagens:

Tropical . 77 X 102 cm. Óleo sobre tela. Anita Malfatti

O Abaporu. 85 X 72 cm. Óleo sobre tela. Tarsila do Amaral. 



  

Bibliografia

OLIVEIRA, Jô. Garcez, Lucília. Explicando a Arte Brasileira. São Paulo: Ediouro, 2004

Periódicos:

ANAIS. “A Semana de Arte Moderna de 22, Sessenta Anos Depois”. São Paulo: 1982. Secretaria do Estado de Cultura.

Revista Novos Estudos-80.  CEBRAP –Edusp. SP-2008

CHIARELLI, Tadeu. Tropical, de Anita Malfatti. Reorientando uma velha questão.

Revista EXTRAPRENSA (USP) Ano IX.n.16. 2015

SILVA, Dalmo Souza. Tarsila do Amaral: Ensaio sobre “Brasilidade”

Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. Ano 11. V.1.2017

Nader. Isabela Leão. Do pioneirismo de Anita Malfatti e Tarsila do Amaral à identidade artística feminina no cenário contemporâneo.

 

 

 

 

 

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