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Mostrando postagens de julho, 2021
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  Rio Interior                                                         Mara Paulina Arruda No dia 12 de março do ano de 2000 Virna saiu de seu apartamento. 12º andar. Entrou no elevador com seu bichinho de estimação guardado na sacola. Tuti. Os olhos do bichano espiando o movimento do entra e sai das pessoas. Virna  fazia  tudo para que ele não fosse notado. Os vincos no rosto dela. Olhos azuis, sobrancelhas pintadas, lábios finos. Do signo de peixes e ascendente em aquário o lenço que tinha sobre os cabelos estampava as águas da sua vida. Cumprimentou o guarda no Hall de entrada. Abriu o jornal. Chacoalhou as águas que corriam nas suas letras. O majestoso rio Uruguai havia sido marcado para morrer em decorrência das usinas projetadas para serem nele construídas. As notícias! O rio, uma entidade. Quando criança,   pés descalços, águas cristalinas, riachos, banhos de cachoeira. Virna voltava ao rio da infância. Correnteza. Voltas de barco. O murmúrio das águas. 400 milímetros de chu
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   As magníficas Clarice e Cecília Mara Paulina Wolff de Arruda Como disse Claudia Tajes corporativa que sou gosto de ver as mulheres mandando bem. De norte a sul, de leste a oeste neste brasilzão de meudeus temos magnificas escritoras: Lygia Fagundes Telles, Raquel de Queiroz, Lya Luft, Adélia Prado, Nélida Piñon, Conceição Evaristo, Marina Colasanti e uma imensidade de magníficas mulheres que através da literatura se posicionaram e se posicionam  no mundo.   A crise histórica gerada diante de uma avalanche de interrogações impostas pelos novos tempos se reflete na Literatura. Esse percurso histórico, nos séculos XX e XXI, dá ênfase  a autoria feminina. M ulheres que se escondiam atrás de um pseudônimo mostram seu verdadeiro nome e enfrentam os desafios que se colocam tanto na vida particular quanto na vida literária.   Escolhi duas magnificas escritoras qual a trajetória humana e literária ilustra como as mulheres podem traduzir a vida em obra de arte. Vamos á elas: Clarice
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  O percurso da milonga Mara Paulina Wolff de Arruda     É provável que algum apresentador de televisão nunca tenha imaginado que alguém no recanto deste país fosse escrever um conto cujo um dos personagens que começasse à narrativa fosse ele, justo ele, um caixeiro viajante, um apresentador popular do Brasil. Talvez, quando ele descobrisse gostasse da ideia porque ele, um personagem da cultura de massa, trás escrito no corpo uma narrativa temporal. E, em seguida se queixaria na ousadia desse autor, no caso, uma autora que usou o seu nome em nome da literatura. Elucubrações. Ficção. José Luís levantou-se do sofá. Desligou a TV. Pegou um cigarro e foi até a janela. Do décimo andar do prédio formiguinhas de um lado ao outro da rua apressados, carros estacionando, ônibus passando, a vida na loucura semanal. José Luís era um homem cultural.   Não teve filhos. Não se casou. Quisera ser um lobo solitário.   No canto do quarto sobre a cadeira um acordeom. Herança de seu avô. Ajeit
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  Penélope        (Mara Paulina Wolff de Arruda   )      Eu sou Penélope. Penélope Maria. Nascida nos trópicos, tataraneta de uma verdadeira Penélope. Minha mãe grávida, aos 40 anos, foi abandonada. Revolta é o que não falta na família.   Ela teve três filhas. Cresci catando latinhas, papel e papelão. Fui para a escola, mas lá não me adaptei.   Sofri Bullying. A cor do meu corpo. O tipo do meu cabelo. Orixás me protegeram quando uma fulana quis me bater.   Vi incorporar o veio João no corpo da minha mãe que fazia chás e cortava quebrantos.   Morei com João.   Tive um aborto. Apanhei. Fiquei confinada.   Dobrei   mas não quebrei.   Fujo do ex-marido como o Diabo foge da cruz. Sei que uma parenta longínqua fugiu da inquisição cujos resquícios podem estar por ali, aqui, acolá. Para ficar brava são dois toques: Um olhar. Uma palavra. Minha avó me ensinou a fazer bordados. Bordei mortalhas. Feminicídio é a palavra usada pelas autoridades para justificar a morte das mulheres da comunidad
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  O mundo feminino e o coranavirus                                                                       Mara Paulina Arruda                A palavra confinar vem do latim Confine; surgida no Século XVI. Verbo transitivo indireto, ter limite comum, limitar, defrontar. Verbo transitivo direto, circunscrever, demarcar. Verbo transitivo direto e indireto, encerrar, clausurar, encarcerar. Vejamos: Eva, a primeira à primeira da fila a ficar no confinamento. Depois, vieram as mulheres dos heróis, dos cavaleiros, rainhas e princesas, damas, freiras, as donas de casa e inúmeras mulheres confinadas no decorrer dos tempos.   De modo que estar confinada enquanto o mundo acontece lá fora, não é, de forma nenhuma, novidade para nós mulheres. O período que vai de 1880 até a Primeira Guerra Mundial é marcado por uma série de redefinições e reajustes. A mulher “rainha do lar” começa a exercitar a sua capacidade de ser. Novas ideias e novas vivências minam a unidade romântica do passado. As c
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  Sinfonias do Corpo Mara Paulina Wolff de Arruda   Desde a criação do mundo o homem   imigra. Como ave procurando um novo abrigo, procurando fazer outros ninhos ele sai do seu ambiente á procura de um novo mundo onde possa viver melhor. A imigração é um fluxo contínuo no mundo. As guerras, questões políticas, falta de trabalho, questões ambientais, violação dos direitos humanos são elementos que movem o ser humano na aventura do desconhecido. Desde o século XV com a crise   da Monarquia, a revolução republicana, os anos da Grande Guerra e o Estado Novo de Salazar  situações históricas trazem os imigrantes portugueses para o Brasil. Em 1961, com vinte e dois anos, o soldado Silvério Ribeiro da Costa saiu do Regimento da Infantaria n.01, nos arredores de Lisboa, em caminhões do exército, com destino ao Caís de Alcântara. No NIASSA, num transatlântico a serviço da ditadura salazarista ele embarcou para servir o seu país, Portugal. Apinhados nos porões do transatlântico os solda