A
palavra lavra Poesia
Mara Paulina Wolff de
Arruda
As
mudanças no clima: O desmatamento, as queimadas, o aquecimento global (1,5 graus de aumento na temperatura média do
planeta) , a poluição sonora, a poluição dos rios e dos mares, o acumulo de objetos
descartáveis, enchentes, secas, incêndios florestais, a morte de animais
silvestres e marinhos, o desrespeito aos índios, a triste consequência da fome
de homens, mulheres e crianças decorrentes do progresso desenfreado, a falta de cuidado com o nosso habitar.
Sustentáculo.
Nas
terras não mais fecundas
Que
a chuva lavou
Há
valas profundas
Que
a enxurrada deixou
No
campo todo queimado sem mais nenhuma vegetação
Se
vê cinzas por todo lado
E
animais mortos pelo chão
O
barro amassado
Sentindo
o peso do mundo
Parece
chorar calado
Solitário
moribundo
O
solo está morrendo
Com
tanta degradação
E
ninguém parece estar vendo
Que
ele é nossa sustentação
Octavio Paz trata da Poesia como registro
histórico.
“A história é o lugar de encarnação da palavra poética. E o poema é mediação entre uma experiência original e um conjunto de atos e experiências posteriores que só adquirem coerência e sentido em relação a essa primeira experiência que o poema consagra. Filho de um tempo e de um lugar é algo que transcende o histórico e se situa num tempo anterior a toda história por ser realidade arquetípica."
A
Arte, produto social, para se materializar utiliza os elementos do tempo
presente. A pintura mostra a imagem e a palavra demostrada em poesia é o
significante do vivido. E é impossível escapar da história que subjaz nas
entrelinhas. O poeta é uma maneira peculiar de ser histórico, disse Octavio Paz. O poema não tem como objeto o homem
individual, mas a coletividade. O objetivo é falar do que está acontecendo com
o outro, com a aldeia, com a comunidade, com o planeta. E não basta enuncia-la
na forma abstrata é necessário o poeta abordar o
poema em sua realidade histórica e ver de maneira concreta qual é a função dentro de uma dada sociedade, do contexto em que está inserido.
O
poema Sustentáculo confere os tempos que estamos vivendo. Tempo de
desapego da terra. O lugar sagrado de outros tempos, hoje, vive a mercê do
agronegócio, da exploração de minérios, da devastação da madeira entre outras
formas de violência.
O
historiador Yuval Noah Harari se une aos profetas do meio ambiente. Ele diz que
mudanças radicais em todos os setores marcam o nosso tempo: convivência,
educação, tecnologias, meio ambiente. Uma informação nova leva dois segundos
para ser conhecida por qualquer pessoa no mundo todo. O mundo do trabalho se
transformou e para sobreviver precisamos de muita flexibilidade mental e de
grandes reservas de equilíbrio emocional. Refletir sobre as mudanças radicais no meio
ambiente é uma das preocupações que devemos ocupar o nosso tempo e nossas
ações.
O
eu-lírico de Jaime Jr diz:
“Com tanta destruição da floresta /Plantar a semente é o que nos resta”
Quem
é esse poeta que poetisa o meio ambiente defendendo a vida de todos e a própria vida?
Jaime
Barros dos Santos Junior nasceu em Curitiba, PR,1983.Engenheiro Florestal,
Doutor em Ciência do Solo, trabalha na Universidade Federal do Pará. Faixa
preta em judô tem no Ippon poético o golpe certeiro:
“As folhas da árvore
que plantei /soam serenas e meditativas”
Unindo-se
a voz dos ativistas no mundo global o poeta ergue a voz em prol do
meio, da terra e do ambiente que é tudo para ele: a
família, o trabalho, a educação, o lugar
em que nasceu, os povos originários. O tudo para ele é o elo que nos
segura. O seu eu-lírico vê, sente e devolve em palavras por que o seu habitar é a sua palavra.
No livro recém-lançado “Fragmentos Poéticos, 2021” ele diz em poesia que é importante não
esquecer. Como educador do campo sabe que lágrimas misturadas a água do
chuveiro são decorrentes da dramática experiência da vida mas que é preciso ser
preenchido com outras possibilidades e outras maneiras de ver, sustentar,
reconectar, ouvir os clamores da terra.
O
que precisamos fazer? Jean-Paul Sartre
disse: “Se a existência realmente precede
a essência, o homem é responsável pelo que ele é.”
Portanto,
pegue a sua parcela de responsabilidade e faça poesia, regue a terra, acomode a
semente, cuide das águas, reveja os seus conceitos. A memória deste tempo pode
ser (está sendo) registrada em diferentes maneiras.
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