Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2021
Imagem
  As estações Neste ano as estações foram, digamos, atípicas. No verão deu até frio. E o frio? Esse foi gelado, agressivo com ventos vindos de todos os lados intercalando com dias extremamente quentes. O que sobrou?   Pouca coisa para contar. As estações passaram e, aqui estou a reviver o inverno em que vi os olhos ora secos, ora molhados, de um  amor. Ao se despedir de Moisés que levava as malas ao carro o tilintar das colheres na xícara vazia. O tilintar. Olhos no teto. Palavras secas. Poucas palavras. Um naco na imensidão. O que restava naquela despedida era somente o ruído de uma colher que caia no vazio de uma xícara vazia e a despedida de uma estação. As xícaras vazias. Olhos no teto. Recolhidos as letras. Vera usava um colar de pérolas no pescoço ao modo de uma pintura de Amadeo Modigliani. Guardava o pão e dizia: vá com cuidado. Se cuide e não costure na estrada. Ponderou. Caminhou até a porta.  Moisés direcionou os olhos para Vera, para os mandamentos   e, voltando o
Imagem
  Suas trovas   No tempo da minha avó quando as mulheres eram submissas e conhecidas por “a mulher do fulano” onde não podiam dar-se ao luxo de casar por amor, numa madrugada, os quatro filhos, chegaram tocando gaita. Ela foi acordada por fortes batidas na porta e uma sonata triste. Cantaram. Declamaram. Mágoas (de um delito, de uma fuga) Homens marcados. Fanfarrões. Recontavam as brigas travadas após uma desavença entre vizinhos. Entre uma música e outra afirmavam que Deus havia reservado um lugar á mãe e que ele, na sua autoridade, iria coroá-la com flores brancas. Ela após ouvir tanta bobagem, gargalhou com o corpo todo. Maçãs no rosto. Rosáceas. Calçava chinelas de veludo. Naquela noite contrabalançou a vida e disse: Não conheci Madame Bovary e nem o seu autor, no entanto é possível que minha vida possa   dar um livro. Foi até a cozinha. Abriu a janela para entrar um vento naquele ar abafado que a todos sufocava. Fez um café forte e serviu aos filhos antes que eles inventas
Imagem
  Três Impressões Mara Paulina Wolff de Arruda   As impressões dela   Venialidades poéticas. Foi isso que ela pensou quando ele acenou. E como se estivesse tocando piano no ar  retribuiu o aceno. Ele estava, como sempre, com o caderno musical nos braços e o violino nas costas. Ela disse, rapidamente, que estava muito ocupada experimentando o lugar onde colocaria os três vasos de violetas que acabara de comprar numa floricultura. É verdade, ele falou do outro lado da rua, a luz solar tem um papel vital nesta planta por isso tenha cuidado aonde vai deixá-las. Sorriu. Ela disse baixinho para si mesma: Sofrimento a vista. Que perigo meudeus! Sei de alguns segredos dele. Na verdade o que ela gostava nele não eram só dos seus segredos mas do silêncio que quando inventava não havia santo que fizesse sair uma sílaba sequer daquele coração que vale um quilate. E por ser assim precioso tem por objetivo não ofender quem ele tem por perto. Valha-lhe Deus nisto estava o mistério!   As imp
Imagem
  Cantos da estrada                                                                                Mara Paulina Wolff de Arruda  Josué f ala rápido sem vírgula, sem ponto, sem nada. Tá bom. Então passou a lotação na estrada fazendo o pó que lhe é peculiar.   Harrãm. Assim diz o povo que segue, todo dia, para o trabalho, Pois é: Heloísa é uma delas e vai ao encontro de Josué. Com as palavras na ponta da língua chega percebendo, de longe, que Josué tava era se fazendo. Grande novidade! Ela disse: Bom dia. Oi? Perguntou ele. Heloísa pensou com seus olhos vesgos de raiva: eu juro de pés juntos qualquer dia jogo esse branquela no poço e esqueço, só pra ver se ele se defende e continua se fazendo de rogado, pescosiando a gente. Mas eis que Heloísa ouviu o zunido das asas. Virou-se. Procurou e ficou com os olhos mais vesgos. Ah tá. Perguntou para Josué se ele também tinha ouvido. O quê? O zunido das asas. Não ouvi. Procura incansável até que Heloísa foi mandando Josué dar conta do serviço – T
Imagem
  As Magníficas II Próximo de completar 100 anos da Semana de Arte Moderna Anita Malfatti e Tarsila do Amaral continuam sendo ícones, as magníficas das artes plásticas do Brasil. O protagonismo feminino de Anita Malfatti na Semana de Arte moderna de 1922 e, após, com a atuação de Tarsila do Amaral é simbólico no ingresso e desenvolvimento profissional das mulheres como pintoras, produtoras de bens simbólicos e mercadológicos da Arte na era moderna no país. Até o século XIX, as artes, para o público feminino eram classificadas como prendas, como um “refinamento do espírito” num tempo que ás mulheres não era permitido trabalhar fora ou ter outra atividade que não fosse os trabalhos domésticos e os cuidados com o marido e filhos. Quando as mulheres começam a se dedicar ás artes os temas desenvolvidos por elas é tímido, considerado próprios de seu mundo, tais como: pintura de flores, paisagens, natureza morta, pinturas decorativas e cópias de obras de destaque europeu realizadas por
Imagem
  O Livreiro Mara Paulina Wolff de Arruda Augusto escancarou a porta da   livraria. Os raios do sol   inundaram o ambiente.   O tempo preparava-se para a primavera que ele torcia para ser promissora.  As mulheres começavam a desenhar nos rostos e nos corpos uma alegria que lhe aprazia. As crianças na balburdia salutar de suas vidas corriam em frente da livraria indo para a escola. Alguns homens paravam próximo da porta para discutir sobre os negócios naquela estação. Era preciso recomeçar. Era preciso reagir. Carros, motocicletas e ônibus trafegavam na rua principal. E o som dos motores, buzinas e conversas o animava. Augusto depois de anotar detalhes da vida cotidiana de sua cidade voltou-se ao cuidado dos livros e da apresentação destes na sua vitrine. Uma caixa havia chegado ao fim da tarde  cheia de novidades. Depois de verificar a remessa e a nota fiscal   pôs-se a tirar os livros analisando. Uma boa edição! Disse entusiasmado e retirou-os da caixa espalhando sobre a mesa e