Penélope      

(Mara Paulina Wolff de Arruda   ) 


 

 

Eu sou Penélope. Penélope Maria. Nascida nos trópicos, tataraneta de uma verdadeira Penélope. Minha mãe grávida, aos 40 anos, foi abandonada. Revolta é o que não falta na família.  Ela teve três filhas. Cresci catando latinhas, papel e papelão. Fui para a escola, mas lá não me adaptei.  Sofri Bullying. A cor do meu corpo. O tipo do meu cabelo. Orixás me protegeram quando uma fulana quis me bater.  Vi incorporar o veio João no corpo da minha mãe que fazia chás e cortava quebrantos.  Morei com João.  Tive um aborto. Apanhei. Fiquei confinada.  Dobrei  mas não quebrei.  Fujo do ex-marido como o Diabo foge da cruz. Sei que uma parenta longínqua fugiu da inquisição cujos resquícios podem estar por ali, aqui, acolá. Para ficar brava são dois toques: Um olhar. Uma palavra. Minha avó me ensinou a fazer bordados. Bordei mortalhas. Feminicídio é a palavra usada pelas autoridades para justificar a morte das mulheres da comunidade.  Tenho um ouvido afinado; ouço conchas. De vez enquanto as bordoadas são usadas para defender-me dos gabirus. Por Zeus! Tenho poucas amigas: Palas Atena, um anjo de criatura. Para sobreviver vendo souvenir na beira mar onde Demeter e Helena, escravas da noite e do tráfico fazem amor.  Amor? Nem sei o que é isso. O morro da Caixa d’água é o lugar onde descanso. Os dedos róseos da Aurora apontam o dia que começa. Sou faladeira. Ninguém vai me calar. O meu Facebook  não tem mostrado bons momentos. O texto é a minha fiação.

 

 

 

 

 

 

 

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