As estações



Neste ano as estações foram, digamos, atípicas. No verão deu até frio. E o frio? Esse foi gelado, agressivo com ventos vindos de todos os lados intercalando com dias extremamente quentes. O que sobrou?  Pouca coisa para contar.

As estações passaram e, aqui estou a reviver o inverno em que vi os olhos ora secos, ora molhados, de um  amor.

Ao se despedir de Moisés que levava as malas ao carro o tilintar das colheres na xícara vazia. O tilintar. Olhos no teto. Palavras secas. Poucas palavras. Um naco na imensidão. O que restava naquela despedida era somente o ruído de uma colher que caia no vazio de uma xícara vazia e a despedida de uma estação.

As xícaras vazias. Olhos no teto. Recolhidos as letras.

Vera usava um colar de pérolas no pescoço ao modo de uma pintura de Amadeo Modigliani. Guardava o pão e dizia: vá com cuidado. Se cuide e não costure na estrada. Ponderou. Caminhou até a porta. 

Moisés direcionou os olhos para Vera, para os mandamentos  e, voltando os olhos para as estações, desenhou um parco sorriso.  

Com um aceno passou o portão, entrou no carro e desapareceu na estrada. 



 

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