Cantos da estrada

                                                                               Mara Paulina Wolff de Arruda 




Josué fala rápido sem vírgula, sem ponto, sem nada. Tá bom. Então passou a lotação na estrada fazendo o pó que lhe é peculiar.  Harrãm. Assim diz o povo que segue, todo dia, para o trabalho, Pois é: Heloísa é uma delas e vai ao encontro de Josué. Com as palavras na ponta da língua chega percebendo, de longe, que Josué tava era se fazendo. Grande novidade! Ela disse: Bom dia. Oi? Perguntou ele. Heloísa pensou com seus olhos vesgos de raiva: eu juro de pés juntos qualquer dia jogo esse branquela no poço e esqueço, só pra ver se ele se defende e continua se fazendo de rogado, pescosiando a gente. Mas eis que Heloísa ouviu o zunido das asas. Virou-se. Procurou e ficou com os olhos mais vesgos. Ah tá. Perguntou para Josué se ele também tinha ouvido. O quê? O zunido das asas. Não ouvi. Procura incansável até que Heloísa foi mandando Josué dar conta do serviço – Teatracahomedocéu! - que o fim do dia já vem chegando e ela queria saber, sem falta, quem foi que derrubou o ninho do João de barro. Um passo... Dois passos...  Não fui eu, não me venha inticá. Três passos... E com os olhos arregalados pegou a enxada e se encaminhou para roça. Heloísa bem viu. Humm... Isso tá me cheirando... Crêendiospai se pego ele, coitado, vou inozá esse fulano! Ele vai vê o que é que eu vou fazer com ele!  No meio dia, perto do Oio d’água, prosa vai, prosa vem, Josué distraído fala de um dia que João tava tchuco e ele deu uma mãozinha quando derrubou sua casaca. Nada mal. Ah é? Foi você ? Pelas almas do purgatório Josué pôs-se a falar daquele jeito, tudo ao mesmo tempo, sem nenhuma pontuação e sem deixar Heloísa respirar...  Josué com o seu gênio  difícil e seu jeito distraído.

 

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