Três Impressões

Mara Paulina Wolff de Arruda







 

As impressões dela

 Venialidades poéticas. Foi isso que ela pensou quando ele acenou. E como se estivesse tocando piano no ar  retribuiu o aceno. Ele estava, como sempre, com o caderno musical nos braços e o violino nas costas. Ela disse, rapidamente, que estava muito ocupada experimentando o lugar onde colocaria os três vasos de violetas que acabara de comprar numa floricultura. É verdade, ele falou do outro lado da rua, a luz solar tem um papel vital nesta planta por isso tenha cuidado aonde vai deixá-las. Sorriu. Ela disse baixinho para si mesma: Sofrimento a vista. Que perigo meudeus! Sei de alguns segredos dele. Na verdade o que ela gostava nele não eram só dos seus segredos mas do silêncio que quando inventava não havia santo que fizesse sair uma sílaba sequer daquele coração que vale um quilate. E por ser assim precioso tem por objetivo não ofender quem ele tem por perto. Valha-lhe Deus nisto estava o mistério!

 

As impressões dele.

 

Ah, lá está ela dando tchauzinho como se estivesse tocando piano.  Ainda bem que não estou atrasado para o ensaio da orquestra e posso vê-la com calma. Um bom motivo para ver seu sorriso e imaginar que, um dia, poderei desfrutar da sua companhia. Sim, eu sou um daqueles sujeitos que fica a imaginar que um encontro casual irá tornar-se um belo romance, quiçá, um grande amor. Conjecturei que se atravessasse a rua chegaria mais perto dela e poderia abraçá-la, fingindo, um descuido, um desequilíbrio. Riríamos e convidá-la-ia para ir ao ensaio da nossa orquestra. Mas, foi só um pensamento que por falta de atitude, digo agora, coragem, ficou só nos pensamentos. Pelo que me parece ela só quer amizade. Claro, eu compreendo. O trabalho é a coisa mais importante do mundo. Mas o fato é que ela me parece um hino tocado ao modo de Bach, uma bela composição musical. Valha-lhe Deus nisto está o mistério!

 

Impressões de quem conta o causo.

 

Via os pássaros quando presenciei a cena: Não estou bem certa, mas acho que ele tinha um nome de flor e ela um nome de terra. Algo assim... Guri, nem te conto! O que vi foi um casal apaixonado. Os olhos dele saiam notas musicais. Os olhos dela, estrelinhas. Ah, por favor, um pequeno exagero não faz mal pra ninguém. Mas é fato que o casal parecia apaixonado. Um dava tchauzinho para o outro e conversavam sobre vasos de violetas. O mais incrível dessa estória é que ele é  apaixonado por Clarice Lispector e pela música de Bach e, ela, gosta mesmo é de Clarice Lispector e da música de Bach. Como assim? Hummmm... Nada de muito emocional. Ou melhor, tudo é emocional. A vida os aproximou. E, agora depois de tanto tempo passado pensamos quando é que se acertarão? Valha-lhes Deus nisto está o mistério!

 

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