A Arte imita a vida?



As  atrizes Jane Fonda, Sophia Loren, Catherine Deneuve e Brigitte Bardot entre outras divas do cinema mundial marcaram com suas interpretações e personalidades os anos de 1960 a 1980, um tempo transitório entre a submissão e a libertação da mulher. Um tempo que a ideia de celebridade ia se colocando no mundo através do cinema e da TV. Rasgaram certidões de casamento, viveram questões sexuais, políticas e comportamentais, interromperam as vidas exclusivamente dedicadas ao marido e outras regras patriarcais.

Lembro do dia que a TV chegou á nossa casa. Minha mãe pôs sobre o aparelho uma toalhinha de crochê. Esse objeto que trazia o mundo para dentro da nossa casa, no interior de Santa Catarina, era um luxo naquele tempo. Ver telenovelas, assistir programas de entretenimento e a transmissão da viagem do homem á lua foi, de fato, um divisor na vida de todos.

Talvez, por causa da TV, talvez por causa do cinema, talvez  por que  a vida não para de nos surpreender após a aquisição da TV o mundo, de repente, ficou pequeno diante da imensidão do universo que se apresentou.  Cresci vendo as mulheres se colocando num mundo romântico mas que poderia ser interrompido se assim o quisesse.  

A vida imaginária  da Arte interferiu na vida da minha mãe, na  minha  e na de milhões de mulheres no mundo todo. Essa interferência fez com que mudássemos os rumos e o modo de pensar. 

No dia 15 de março de 2021 encontrei-a numa cama de hospital totalmente diferente daquela mulher  bonita, decidida e guerreira, cheia de hipérboles que admirei. Não era ela.  No entanto, a enfermeira e minha filha mais nova disseram que sim, ali estava a Maria, minha mãe.  

No dia seguinte cheguei cedo ao hospital. Queria confirmar, mais uma vez. Na minha cabeça era possível um engano. A troca do quarto... Inventei muitas desculpas. No entanto, no quarto 317, Maria, minha mãe estava lá.  Magra, respirando com ajuda de aparelhos, o corpo sobre a cama erguida, a pele seca, as veias machucadas por procedimentos médicos, os cabelos brancos, ela que até os 82 anos fez coloração.

Conversei com ela, fiz-lhe um carinho e rezei com ela. Lembrei-me de uma música que a vi cantar muitas vezes. Cantei e vi seu olhar que até aquele momento estava no vazio voltar-se para mim e, em minutos depois, fecharem-se. 

Faz tempo, ela nem soube, mas um dia eu a comparei com Brigitte Bardot. 

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