Funes,
o memorioso
Jorge
Luís Borges, no conto Funes, o memorioso
descreve um índio que sabia sempre a hora, como um relógio. Após sofrer um
acidente sua percepção e memória ficaram infalíveis. Naquele tempo não existia
nem cinematógrafo e nem fonógrafo, mas ele recordava cada folha, cada árvore,
cada morro. Insone, Ireneo Funes dizia que dormir é se distrair e, ele, num
esforço sobre-humano, lembrava e relembrava. Funes leu latim; uma das línguas mais
antigas da humanidade, Borges emprestou á ele. No capítulo da memória Funes se
deteve.
O
tempo é um “problema” para todos nós. Na infância, o tempo não passa. Na vida
adulta, o tempo corre, na velhice, faltou tempo. O tempo
não para já disse o poeta Cazuza. E esse tempo precisa ser rememorado. No
entanto, nossa memória está em risco diante de tanta informação, de tantas opções,
de tantos ‘amigos’, de tanto marketing das redes sociais. Muito mais do que
presencialmente. Isso é fato. E é um fato ruim sob vários aspectos e, bom, sob
vários aspectos, assim como é a vida com dias bons e dias ruins. O segredo?
Talvez seja separar, escolher o melhor para cada um.
O
que fazer diante desta nova realidade contada no número virtual que temos-
somos? Será possível que daqui alguns anos esse tempo também será esquecido?
A
pandemia nos mostrou que somos frágeis, limitados e narcisistas. Que muitas das
frases que ditamos são clichês. Mostrou o submundo existencial e econômico. Mostrou
a monstruosidade humana. Muitas lições, novos atores, repaginação de atores que
precisam ser rememorados nas benesses que fez.
Não
esquecer é resistir. E resistir a fugacidade, as modas, a voracidade do tempo é
um exercício e um modo de ser.
O
passado retorna continuamente. Essa frase dita por um historiador mostra que
nada é esquecido por completo. Tudo está nos algoritmos, nos livros, no labirinto da nossa
memória ou na memória de alguém, pois a tarefa da memória é interminável, disse
Ireneo Funes.
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