Dulcinéia brasileira


 

I

-Ó princesa que fazes perdida no meio deste rio?

Pés descalços, coração, refletida na leitura

 

Dulcinéia da Silva, o seu nome de batismo

“Posso ler a sua mão?”

 

Benzimentos, Benzedeira, Benzer

Ogum, Oxalá, Iemanjá, Orixás

 

Aguares

Irmã de Macunaíma

passado-presente-futuro

Índia. Negra. Guerreira. Brasileira

Suas lágrimas desembocam na cachoeira destes verdes campos

Campos vertentes que desembocam no

Riovida

 

Santa Luzia passou por aqui

Com seu cavalinho comendo capim

 

Arqueira

Santa Bárbara

Lanças de papel

 Palavras são flechas   flechas    flechas

Girassol giramundo giraavida girassol

“O gira, deixa a gira girar”

 

Riscou na mão o ponto

Com o carvão daquela árvore

-Derrubada, cortada, resto de chamas-

 

II

 

Pêssegos, maçãs, peras

Do pé ao pote

Feitas em manhãs orvalhadas

 

Do leite uma coalhada

Da coalhada o queijo

Do queijo á mesa

Na mesa o café

 

Exu disse no círculo de vento

Rodopia menina rodopia

Este rio passa nessas montanhas

Os teus cabelos  rodam o mundo

rosas, pétalas, folhas amareladas pelo tempo

Naquele dia ela buscava o Muiraquitã

Oh descuidado Macunaima !

Dia plúmbeo, inverno, água congelada

Os que se foram

Mal se despediram

Deixaram-na a sós

Com mãos em concha

Silenciosa

Enlutada

 

 

III

Primavera chegou sem avisar

Galhos de cerca-viva

Coroas e anéis

Vestida de prata

Domingo

 

Amanheceu no oeste do povo

Da Jarra um gole d’água

Uma escola construída

A bela Dulcinéia

Nome fabuloso gravado 

No meio das galáxias

Não sabia ler e nem escrever

Outra chance foi dada

 

-Ó princesa que fazes perdida no meio deste rio?

 

Tirem-na de lá

Era. Sina. Destino.

Madrepérolas e corais

Deixai-a  nova-mente-  rioandar


 

Rosas de ouro, rosáceas, margaridas, hortênsias, vitórias-régias 

Dulcinéias

Idílio sideral

Não falasse de dor

Falas de amor.

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