O tempo da história



                                                                                             Mara Paulina Arruda

 

Quem são os sujeitos históricos de 2022 ?

Hannah Arendt,1975, diz que “Tudo que os homens fazem, sabem ou experimentam só tem sentido na medida em que pode ser discutido”

          Refletir sobre o que estamos fazendo e como estamos enfrentando as mudanças ocorridas no mundo pós-pandemia é um exercício salutar. Esse exercício mostra que na educação e na cultura a aprendizagem se dá na constituição dos interesses. Mas para que isso aconteça é necessário a convivência e o diálogo.

 Quando a convivência é dialógica e livre entre sujeitos históricos e sociais, dá-se então a relação expressa pela democracia na medida em que é histórica e socialmente constituída. A esfera do social é considerada fundamentalmente na relação com o outro. E é no contexto das relações sociais que a constituição do sujeito acontece, ocorrendo a história das interações, das quais os sujeitos são componentes e participam e dos lugares sociais que ali adquirirem.[1]

A Professora de História Simoni Mendes[2],em abril de 2022, começou o diálogo com  uma pesquisa sobre as preferências e interesses dos adolescentes no Ensino Médio. Essa pesquisa aborda questões inerentes ao processo de modificação cultural e comportamental que os alunos e alunas estão passando-construindo- diante do contexto socio-cultural  onde as redes sociais interagem de modo efetivo na vida deles. Questões sobre identidade étnico-racial, sexualidade, identidade de gênero, religião entre outras questões foram pensadas num questionário que ela aplicou nas suas  turmas.

O conceito de sujeito histórico foi uma das temáticas desenvolvida nos trabalhos de L.S.Vigotski  que assume a tese central de que criando e recriando a cultura em suas relações sociais o humano cria e recria a si próprio. Através da subjetividade, os sujeitos de suas ações se autoproduzem em processos coletivos de natureza econômica, política e cultural na convivência livre com os demais sujeitos sociais. Este sujeito histórico não é algo separado, que interage com a realidade, mas é parte integrante desse meio social e histórico que atua. Só há sujeito porque constituído em contextos sociais, os quais, resultam da ação concreta de homens que coletivamente organizam o seu próprio viver. É na cultura que o sujeito histórico se expressa. “Sem o olhar do outro eu não me construo” ele disse.

Ao fazer essa pesquisa a Professora propõe ouvir por ângulos diferentes as preferências, o modo de ser de cada um/uma. E, sobretudo, pensar a diversidade como ponto de enriquecimento.

Mas, afinal, quem é o sujeito histórico de 2022?

Pensando na nossa experiência escolar vemos que os sujeitos históricos são pessoas inquietas com os olhos na tela do celular  vendo o que acontece no mundo exterior. Nativos da era tecnológica a vida do outro é mais importante que o seu próprio desenvolvimento. Diante das incertezas do mundo eles aprendem a conviver com as catástrofes do imediatismo no planeta.

A pesquisa mencionada mostra que há uma modificação nos interesses dos adolescentes, os sujeitos históricos dessa década. A educação precisa rever (mais uma vez!) a forma de educar, construir, dialogar com esses autores, como disse Hannah Arendt.

“Em outras palavras, as histórias, resultado da ação e do discurso, revelam um agente, mas esse agente não é autor nem produtor. Alguém a iniciou e dela é o sujeito, na dupla acepção da palavra, mas ninguém é seu autor.[3]

 

 



[1] Amélia Hamze,2021 -Professora da FEB/FIZO/ISEB

[2] Professora da Rede Estadual de Educação de SC. Doutora em História pela UFSC

[3] ARENDT, Hannah. A Condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitário, 2004

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