Mário de Andrade, um  ser  trezentos e cinquenta

(Mara Paulina Wolff de Arruda)

 




Mário Raul de Moraes Andrade -1893-1945- tem como registros múltiplas formas de linguagem, próprio das situações socioculturais  variáveis em vigoroso processo de transformação. A defesa da fala nacional e expressões artísticas circulavam num ambiente comprometido com a identidade brasileira.

 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta,

As sensações renascem de si mesmas sem repouso,

Oh espelhos, Oh! Pirineus! Oh caiçaras!

Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

 

Poeta, contista, músico, pesquisador do folclore nacional, da linguagem, polígrafo, trabalhador incansável da arte e cultura; talvez tenha sido o primeiro arte-educador no Brasil.

Antes do nascimento da internet Mário de Andrade foi um comunicador de sua imagem e do seu trabalho cultural. Foi um dos mentores da Semana de Arte Moderna de 1922, uma semana de apresentações de poesia, pinturas, música, arte que reivindicava o pé no chão dos paulistas e a conscientização da própria cultura do/no país

Abraço no meu Leito as melhores palavras,

E os suspiros que dou são violinos alheios;

Eu piso a terra como quem descobre a furto

Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

 

Em 1930, Mário de Andrade organizou o Departamento de Cultura para a unificação da cidade de São Paulo em parceria com o escritor e arqueólogo Paulo Duarte. O objetivo era catalogar músicas do norte e Nordeste brasileiro, numa grande missão de pesquisar e divulgar o folclore do Brasil. Engajado na melhoria e na conscientização da arte brasileira Mário de Andrade demitiu-se do departamento com a instauração do Estado Novo de Getúlio Vargas em 1938.[1]

Em uma conferência realizada, 1942, ele fez um retrospecto do movimento modernista no Brasil assinalando que a estética do modernismo se mostrou indefinível pois não vinha da Europa, nem daqui, mas era um estado de ânimo revolto e revolucionário que nos atualizaria, sistematizando como constante na inteligência nacional o direito antiacadêmico da investigação estética, preparando o campo revolucionário para outras manifestações sociais do País.[2]

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinquenta

Mas um dia afinal eu toparei comigo...

Tenhamos paciência, andorinhas curtas,

Só o esquecimento é que condensa

E então minha alma servirá de abrigo.

 

O Brasil diante do processo de urbanização decorrente da imigração europeia foi visto pela complexidade do espírito de Mário de Andrade como um celeiro para novas experimentações estéticas em prol de uma arte original, brasileira.  E, diante das possibilidades e dos movimentos artístico que surgiam, o poeta  não perdeu tempo em registrar o que ele concebia multiplicando-se em trezentos e cinquenta. 

Marcelo Tápia, diretor da Casa Mário de Andrade, numa carta apresentada, no evento virtual, ‘Mario em Foco’, 2023, na comemoração dos 130 anos do nascimento de Mário falou da revitalização da Casa Mário de Andrade após épocas pós-veloz, pós-mudanças, pós-vanguardas, pós-rupturas, pós-loucuras, pós-utópica, pós-tudo que envolve o tempo, o nome e o trabalho desse artista incrível porque seus feitos foram diversos e fundamentais para a história de São Paulo e do Brasil.

 




Livros de Mário de Andrade publicados em vida

 

Poesia

Há uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917)

Pauliceia Desvairada (1922)

Losango Cáqui (1926)

Clã do Jabuti (1927)

Remate de Males (1930)

Poesias (1941)

 

Romances

Amar, Verbo Intransitivo (1927)

Macunaíma (1928)

Contos

Primeiro Andar (1926) 

Os Contos de Belazarte (1934) 

 

Ensaios, críticas e musicologia

A Escrava que não é Isaura (1925)

Ensaio sobre Música Brasileira (1928)

Compêndio de História de Música (1929)

Modinhas Imperiais (1930)

O Aleijadinho de Álvares de Azevedo (1935)

Lasar Segall (1935)

O Movimento Modernista (1942)

O Baile das Quatro Artes (1943)

O Empalhador de Passarinhos (1944)



[1] Eliana Nakashima. Pósfacil de Macunaima, São Paulo: Martin Claret,2016

[2] Marta Rossetti Batista. Anais do Curso “A Semana de Arte moderna de 22,sessenta anos depois” São Paulo.SEC,1984

[3] Poema do livro Remate de Males. Edição Estabelecimento gráfico Eugenio Cupolo,SP.1930

 

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