Ser fã

(Mara Paulina Wolff de Arruda)




 

“No real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem acabam. Melhor assim.” (João Guimarães)

 

Poucos períodos da história se comparam com o nosso em termos da velocidade e determinação das mudanças na forma de nos comunicar, nos conhecermos,  disse Howard Gardner.

Ser fã é um atributo humano.

O fã se reflete. Se encontra.

Aquele olhar apaixonado por uma pessoa que pouco-quase nada- conhecemos. Que vive muito além das nossas realidades. Que vive também os seus problemas, angústias, aspirações, mas que tem nas suas performaces  o poder de encantar-nos, envolver-nos, enfeitiçar-nos.

É com conhecimento superficial, imerso no mundo do trabalho de alguém que ouvimos as fofocas de sua vida, os sucessos ou o que for. O que importa para um fã é tentar participar de algum modo dessa vida vendo-o nas redes sociais, tv, shows... vivendo a vida que gostaríamos de ter.

O ser humano se comunica para escapar à morte e para dar um sentido à vida. O outro que desejo e me fascina é sem-lugar, diz  Byun Chul Han.

Os fãs de Ivete Sangalo, 60 mil pessoas no maracanã; a vida matrimonial da modelo e empresária Ana Hickmann e por aí vai ...

A sociedade -somos nós- está marcada por agendas de endereços em rápida evolução, uma ampla base de dados pessoais em forma digital sendo fã ou não.

O fã busca por sua verdade e por querer ser como aquele qual se deposita admiração, amor, beleza. Como se esse ídolo fosse intocável e um escudo o protege, protegendo-nos, das mazelas da vida real.

Verdade, beleza e admiração  são basicamente diferentes: enquanto a verdade é um domínio das declarações, a beleza se revela no decorrer de uma experiência com um objeto e, a admiração -leia-se amor- o suspende.

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