Ciclo de Formação Sindical SINTE-SC


 

Mara Paulina Wolff de Arruda[1]

 

Tema Gerador: Meio Ambiente e Novas Tecnologias da Informação

Título: Cultura. Futuro. Civilização

O Ambiente naturalmente se transforma no percurso histórico. O desenvolvimento, suas tecnologias  e a ganância econômica  têm criado inúmeros problemas. A produção em série, o acúmulo de produtos e seus resíduos desestabiliza a natureza. A terra, a água, o ar e os  seres vivos adoece, agoniza e  morre.

Com as novas tecnologias da informação somos avisados das mudanças climáticas no mundo, trazendo-nos o  saber da falta de água,  enchentes no nosso país ou em outros países, terremotos, mudanças radicais nas condições meteorológicas entre outros fenômenos, simultaneamente, em qualquer lugar.

Os desafios da humanidade estão em agir com relação às mudanças, principalmente, a do plástico e o microplástico que invade toda forma de vida. Pesquisas de cientistas italianos, publicadas em 2021, identificaram pela primeira vez o microplástico na placenta humana.

Este texto tem como objetivo dialogar sobre o ambiente a as novas tecnologias da informação, criticamente, mas não apenas isso.

Palavras chave: Educação. Intervenção ambiental. Tecnologia da informação. Plástico. Resíduos[2]

 

 

O psiquiatra Sigmund Freud, no “O mal estar na civilização”,1929, trata de temas da esfera cultural que envolvem ética, moral social e religião. Temas caros e atuais ao pensarmos que a cultura faz parte de toda vivência humana.

“Não podemos deixar de ter a impressão de que as pessoas geralmente avaliam as coisas baseando-se em parâmetros equivocados, ambicionam o poder, o sucesso e a riqueza, e admiram tudo isso nos outros, mas subestimam os verdadeiros valores da vida”[3]

A relevância do tema gerador “Meio Ambiente e Tecnologias da Informação”  é redigir um texto que provoque a reflexão sobre a produção gigantesca de plástico e outros materiais que estão, cada vez mais, sendo produzidos e consumidos. Essa tendência gananciosa e excludente, concordando com  Kaka Werá[4], modifica o sistema natural da flora e da fauna. É possível que estejamos num precipício ambiental.

Em 2021 o mundo produziu 390,7 milhões de toneladas de plástico, segundo estimativa da Plastic Europe, das quais 32% vieram da China. Desta produção mundial estima-se que  12,7 milhões de toneladas de plástico e microplástico cairão nos oceanos.

O jornalista Marcel Hartmann, no jornal Zero Hora, de 01/07/2023 abordou esse assunto na reportagem “O Desafio do Microplástico”  A par das pesquisas no Rio Grande do Sul por biólogos e pesquisadores do mundo a realidade do  microplástico[5] invade água, solo, mar, ar, nosso sistema físico-emocional, nosso corpo humano; milhares de aves, peixes, seres marinhos,  insetos e outros indivíduos da natureza são afetados por essa produção residual.

Para diminuir essa realidade cruel será necessário reutilizar, reciclar  e repensar o que nós estamos consumindo.  Como o fazemos e, segundo Hartmann, reduzindo em 80% até 2024 a produção de plástico. Será necessário incentivar as industrias a comprarem este material assim como é feito com o alumínio das latinhas. No Brasil, apenas  4% do lixo sólido é reciclado, segundo dados da Internacional Solid Waste Association.

 A Política Nacional dos Resíduos Sólidos deverá ser implementada além destes 4%. O tempo urge por mais empresas, comércios, industrias que reciclem, que valorizem os catadores, promovam campanhas nas escolas, associações e empresas.

A questão ética diante do próprio consumo separando o material reciclável, destinando aos catadores – tornando-os profissionais deste trabalho- além de buscar nas políticas públicas soluções para os aterros sanitários e a preservação do ambiente com a educação deverá intervir como estratégia socio-pedagógica.

Salutar, neste momento histórico, educarmos para a preservação do ambiente, falarmos na extinção dos animais, falarmos de ecologia, de cuidado com o nosso habitat . Educar, informar e  preservar. Utilizarmos as tecnologias da informação como forma de reeducação e conscientização para outras atitudes diante do acúmulo de resíduos (plástico, roupas, eletrodomésticos, celulares) uma infinidade de objetos criados para dar conforto a humanidade, mas que após o seu tempo útil, não se sabe o que fazer com esses objetos.

Assim como o planeta orbita ao redor do seu astro central, e também realiza o movimento de rotação em volta do seu próprio eixo, o indivíduo é partícipe do processo de desenvolvimento da humanidade enquanto percorre o seu próprio caminho de vida. A analogia entre o processo da cultura e o caminho do desenvolvimento do indivíduo pode ser significativamente ampliado através de práticas socioambientais e socio- pedagógicas valorizando as Cooperativas de recicladores, valorizando a reutilização do plástico ou outro material, ou seja, tomando consciência  da nossa finitude.

A educação  deve concentrar-se no reconhecimento e no lugar mais vulnerável de toda cultura: o próprio ambiente. Aos conteúdos e práticas educativas um  olhar ético deve dar ênfase a nossa única morada:  Planeta Terra. 

 

A ideia de progresso

Edgar Morin[6], aborda a ideia de progresso como “Problemas ligados ao progresso do conhecimento” Questiona a verdade desse possível progresso. Pois sendo cumulativo e linear o progresso  avança por uma vida “melhor” que traz embutido a acumulação, a exclusão e o prejuízo da qualidade de vida.

Quanto mais prédios menos jardins, abelhas, pássaros, borboletas, flores. De  modo que é a desordem e não a ordem que progredi. Ou seja, se o universo se decompõe, se a vida morre não há progresso, haverá doenças, fracasso. O espaço geográfico, as florestas, as planícies sendo tomado por grandes construções, esgotos, comércios, carros e toda forma violenta vai  devastado de modo gradual e eficaz a terra.

Desde os tempos primitivos homens e mulheres tem desenvolvido tecnologias para melhorar a existência. A roda, o carro, o avião, a fotografia, o cinema, a televisão, a internet, o celular são exemplos tecnológicos desenvolvidos com sucesso. Contraditoriamente o sucesso vem sendo traçado no percurso do tempo por uma ideologia dominante.  Através desses meios constrói-se outros saberes e a vida dita primitiva passa a ser civilizada. Através das tecnologias inventamos modos de manipulação muito sutis. Essa manipulação exercida sobre as coisas e sobre as pessoas implica a subjugação dos homens pelas técnicas de manipulação, os panópticos  atuais, a inteligência artificial que vai modificando inclusive o sentido que damos às coisas.

Na questão da ética Morin, no capítulo ‘Teses sobre a ciência e a ética’ demonstra que a prática científica desenfreada nos leva a irresponsabilidade e à inconsciência total.

Mas, o que nos salva é que além de cientista o homem é também pessoa, cidadão, ser com convicção metafísica ou religiosa e moral. Portanto há uma ‘certa’ obrigatoriedade em nos redefinirmos na noção de pessoa humana, em nos interrogarmos diante dos conflitos, valores  e problemas que surgem após as descobertas. A ética para Morin está situada nos valores do bem e do mal.

 

Ensinar exige apreensão da realidade, disse Paulo Freire[7]

 

Pode-se conceber uma ciência da autonomia? pergunta Morin que, possivelmente, leu Paulo Freire.

A autonomia é vista por Paulo Freire  no seu “Pedagogia da Autonomia”   Ensinar exige olhar o presente e fazer deste o seu material pedagógico.

Para Freire  a educação não pode ser/ter  um olhar distante da realidade e ensinar exige intervenção no mundo. Toda mudança quer seja cognitiva ou psicológica deve ser movida pelo ambiente no qual o sujeito está inserido. E essa mudança, de forma autônoma exige ética, comprometimento, responsabilidade, diálogo, afeto.

Segundo Freire[8] o desemprego no mundo não é uma fatalidade. E, sim, o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos  a que vem faltando o dever ser de uma ética realmente a serviço do ser humano, e não do lucro e da gulodice irrefreada das minorias que comandam o mundo.

A realidade excludente é real e atinge, principalmente, quem não tem perfil profissional,  tem outro ponto de vista,  tem outro gênero, etnia, outra religião e  não tem acesso a escola e as políticas sociais.

A pedagogia da autonomia de Freire dialoga com a educação e a sustentabilidade podendo ser conduzida para a participação de todos no desenvolvimento das pessoas e das cidades.

Não estamos sozinhos. Não somos donos do mundo. E tudo é circular como disse Morin “Toda vida humana autônoma é uma trama de incríveis dependências” ou como disse Freire “Disponibilidade a vida e seus contratempos. Postura crítica e desperta nos momentos necessários não podem faltar”

 

Concluindo

 

Somos movimento  cíclico natural e cultural da sociedade.

A ganância, a produção ininterrupta e o consumo enlouquecido de plástico  poderão nos levar a catástrofes. Ilhas de roupas. Ilhas de plástico. Acúmulos de material radioativo e eletrodomésticos em todos os países são cada vez mais presentes. Pássaros, tartarugas, peixes, animais silvestres vêm absorvendo todo tipo de resíduo que invade o mar, os rios e a terra. Este é o sinal vermelho para nossas atitudes:  PARE. Leia o mundo.

Promover uma nova abordagem do meio ambiente na educação é o objetivo maior que precisamos desenvolver cientificamente e aplicar na nossa rotina e trabalho.  Banir canudos e sacolas plásticas, repensar a ida ao supermercado, exigir leis para regular a indústria, pesquisar e investir em diferentes tipos de reciclagem. Profissionalizar os catadores de material reciclável. Repensar e atuar com novas estratégias e pesquisas para o descarte de todo tipo de material usado.

Diante da realidade da tecnologia da informação e da produção intensa de plástico e outros resíduos educar para a preservação do ambiente é o nosso grande desafio. E, possivelmente, o maior de todos na História.  Utilizar essa tecnologia da informação em prol da vida criando necessárias formas de diminuir a quantidade de plástico é nosso dever pois do contrário podem provocar grandes desastres nas regiões, nos países, no planeta. Com a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9.795/99[9], carecemos atuar de forma saudável no ambiente em uma economia circular.

O ser humano é físico, biológico, cultural e psíquico. Somos transitórios;  a nossa vivencia e convivência está subordinada ao outro e aos outros seres vivos da/na terra.

Ter cuidado e  amor ao planeta salvaguardando a vida deve ser o reinicio deste tempo e dos tempos futuros. 

 

 

 



[1] Professora de Arte da Rede Estadual de Santa Catarina. Pós-graduada em História Contemporânea.

[2] Lei 12.305/2010. Art. 1o  Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. 

[3] FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. (Tradução: Inês A. Lohbauer) São Paulo: Martin Claret,2020

[4] 01/06/2023. Seminário Virtual de Formação. Youtube Sinte-SC

[5] Segundo Hartmann Microplástico são partículas de até 5mm que resultam da quebra de plásticos maiores (garrafas, sacolas, embalagens e copos de café) por ação do ambiente. Em menor escala, são produzidos nessa dimensão para serem misturados a outros produtos, como sabonetes e cosméticos esfoliantes. Em geral são vistos a olho nu. Mas, pelo tamanho, espalham-se em proporções gigantescas.

[6] MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. (Tradução de Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória) 7ª.edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2003

[7] FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

[8] Pg.130

[9] Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

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