Peregrino, o Poeta

(Mara Paulina Wolff de Arruda)

Escrever é a principal reação aos efeitos do esquecimento; a segunda é a arte[i]

 


O caminho percorrido por um poeta não é um caminho “comum”. O poeta dá voltas. Voltas em si mesmo e nos que o acompanham. O poeta desconfia. Apenas confia nas suas palavras. Um risco, um significado. Passa por pesadelos. Sonha. Enfrenta  obstáculos que vão surgindo no percurso de sua peregrinação. Sol e chuva. Vento e brisa. Lua e nuvens. Misterioso mundo. Os sapatos gastos de tanto procurar. 

Conheci o poeta Rubens da Cunha lendo as crônicas  publicadas no jornal ‘A Notícia’. Jornal publicado em Joinville, no Estado de Santa Catarina, 2004. Naquela época ele estava terminando o curso de Letras na UFSC e começava a dar os primeiros passos no Mestrado em Literatura.  Não tive dúvidas: entrei num ônibus e fui conhecer  o poeta de perto.

Suas crônicas no Jornal A Notícia eram textos que exprimem momentos corriqueiros ao modo de Rubem Braga.

“Observar pequenezas é trabalho árduo e inútil, dois adjetivos que parecem não combinar entre si, mas que formam a base tanto de um cronista quanto de um poeta”[ii]

Rubens da Cunha sempre teve gosto pela poesia, pelo valor da palavra. Em 2004 coordenou o grupo Poetas Zaragata em Joinville.Em 2008 publicou com artistas locais o conjunto de 15 Libretos Vertebrais.



Pesquisador da  poesia de Hilda Hist  vem, conjuntamente, se espichando no fazer  literário. Ele faz parte do grupo de escritores que estão longe do centro cultural do Brasil (São Paulo-Rio de Janeiro). Cresceu na era pós-ditadura, foi adolescente na era da redemocratização do país, viu e vê as agruras (quase corriqueiras) do Brasil. Ele, um astuto observador.  

Sim,  ainda tenho  recortes amarelados das crônicas de Martha Medeiros, Claudia Tajes, Ismael Caneppele, Sérgio da Costa Ramos, Raul Arruda Filho e, obviamente  de Rubens da Cunha. Esse material amarelado pelo tempo, mostram escritores do sul do país cujo principal objetivo era ser original, com um humor criativo, inteligente, fora dos clichês da era tecnológica, das redes sociais.

Os  ‘VERTÉBRAIS”: quinze libretos poéticos, uma mistura de poesia e arte visual publicados em 2008 sempre me chamou a atenção:

1-      Poesia visceral ;  Compartilhamento poético com artistas joinvilenses.



“A narração é uma forma de desfecho. Ela constrói uma ordem fechada que cria significado e identidade” disse o filósofo  Byung-Chul Han questionando os motivos os quais deixamos de narrar e,  alertando, para a crise e a importância de ter-inventar outras possibilidades para narrar, fabular.

O que são as vértebras?  

Ossos que compõem a espinha dorsal do nosso corpo. Ossos que equilibram nossa coluna, as vigas do nosso corpo-casa. Para Rubens da Cunha é Ver-te-brais.- É ver-te juntamente com  ais- É mobilizar, trazer para o campo de atuação da arte o poder das metáforas. Retornar a infância, ao mundo da palavra bem falada e escrita. O suporte da casa de paragens. O crescimento interior e poético. Resguardar a própria vida-casa mesmo que ela esteja em plena peregrinação.



[i] Arte como terapia. Alain de Botton; John Armstrong. RJ: Intrinseca,2014

[ii] Aos Novos Cronistas. 07/07/2010- Jornal A Notícia.

 

 

 


Livros Publicados por Rubens da Cunha

 

Campo Avesso, Joinville, SC,  editora Letra-d’água,2001

Casa de Paragens. Florianópolis, SC. editora da UFSC, 2006

Aço e Nada. (Seleção de crônicas publicadas entre fevereiro de 2004 e março  de 2007 no caderno Anexo do Jornal A Notícia). Jaraguá do sul: Design editora,2007

Vertébrais- Joinville, SC, Sintonia Comunicação Ltda.2008

Dossiê Osíris -Péricles Prade- (Organização e seleção de Marco Vasquez e Rubens da Cunha) Florianópolis, SC.

Crônica de Gatos. Joinville, SC, SIMDEC, Design editora, 2010

Curral : Navegantes: Papa-Terra Editora, 2011

Breves exercícios para Fugitivos , UFSC. Florianópolis, SC, 2015

A Guardadora da Ponte e outras biografias inventadas. Conceição da Feira: Andarilha Edições,2020

 

 

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