Torres Pereira
(Mara Paulina Wolff de Arruda)


“Escrever é a principal reação aos efeitos do esquecimento; a segunda é a arte e a arte nos ajuda a cumprir uma tarefa de importância central na vida: conservar as coisas depois que elas partiram.” (Allain Botton)

 

Nas voltas que o mundo dá o escritor Torres Pereira,(1945- 2024)  foi morar em Chapecó, SC. Escritor, jornalista e agitador cultural.

Conheci-o nos anos de 1995 quando a ACHE, Associação Chapecoense dos Escritores, lutava por espaços na cidade em prol da literatura.  Éramos um grupo coeso e que lutava, de modo utópico pela literatura regional fora do mundo acadêmico. Havia uma disputa salutar de quem melhor escrevia  poesias, contos, crônicas. Aliás, crônicas o escritor Torres Pereira sabia fazer muito bem.  

A palavra saudade é uma palavra que só existe na língua portuguesa.  Torres Pereira viveu numa era em que a única forma de comunicação de um país ao outro acontecia através de correspondências escritas manualmente.  Como um dos da mesma linhagem de Fernando Pessoa a saudade o atravessou em toda a sua vida e, talvez por isso, ele escreveu e publicou o que pode para aliviar as  suas saudades. Historicizando, contando, imaginando o seu mundo, tentando voltar de alguma forma aos  primeiros tempos de sua vida.

Nascido em Lisboa foi combatente de guerra na África. Em Moçambique colaborou com os jornais ‘Notícias’ e editou a revista Poing!. Em Zimbábue se tornou livreiro e correspondente do jornal “A Voz”. Veio para o Brasil em agosto de 1976, vivendo inicialmente em São Paulo. Casado com Manuela Torres Pereira, teve dois filhos.

“A autobiografia é defesa dos sobreviventes da violência. Sobreviver a violência é combate-la através da palavra.” disse Edouard Louis

Sendo imigrante inventou um jeito de se colocar no ‘novo’ espaço geográfico; jeito brincalhão de ser, pronto para servir os amigos, valorizar o que cada um fazia e, compreendia a  literatura como um movimento de  inclusão. Publicou vinte e dois livros.

Participei de muitos projetos e publicações com ele e o grupo de escritores da ACHE. Tanto com a nossa independência de publicação quanto com o SESC em Coleções de Autoria, Oficinas Literárias.

Era um sujeito utópico, no dizer de Roland Barthes. “Não há outra saída para esse autor senão o deslocamento-ou a teimosia-ou os dois ao mesmo tempo”

Percorria as escolas da cidade vendendo seus livros, palestrando e entusiasmando crianças e adolescentes para a leitura. Não perdia um evento cultural. Com seu espírito alegre  ele tinha para todos uma piada portuguesa ou uma palavra de afeto. Publicou livros de poesias, relatos históricos e literatura infanto-juvenil. Escreveu a biografia do também português, artista plástico, Agostinho Duarte. Fazia com Silverio Ribeiro da Costa e Agostinho Duarte o trio de portugueses que tomava café nas manhãs no café brasiliano, no centro da cidade de Chapecó. Em 2023 foi homenageado pela EEB Zitta Flach com o seu nome na biblioteca.

Autor do livro Chapecó Vista por um Forasteiro  publicou seus livros com patrocínios de empresas locais. Foi Conselheiro Municipal de Cultura, um dos organizadores do IV Encontro Catarinense de escritores, 1996, e um dos responsáveis por levar o poeta Lindolf Bell para o encontro. Seu nome figura na Enciclopédia “A literatura dos Catarinenses, Espaços e Caminhos de uma Identidade” de Celestino Sachet, 2012.

Não é exagero dizer que a região oeste lembrará durante muito tempo do formidável  forasteiro Torres Pereira.

Livros Publicados

Um prato cheio para o seu bom Humor;

Chapecó visto por um forasteiro, Chapecó, SC:1995

Cada uma melhor do que a outra;

A Confraria dos Acheanos;

Desbravadores da Contramão;

Levando pela Arte e a Aventura;

Mais que uma guerra;

Levado Pela Arte e a Aventura. Biografia de Agostinho Duarte. Chapecó, SC: 2014

Os Brasis de meu Brasil;

Sussurros Poéticos e Contos hilariantes;

Literatura Infanto-juvenil

A vez e a voz do nosso melhor amigo- traduzido para espanhol e inglês-

A doce revolucionária;

Minha amiga Biblioteca;

Publicação na África

Nós os da geração 2000;

Eh, parem lá com isso!...

Participou de Antologias da Associação Chapecoense de Escritores- ACHE  V,VI,VII,VIII,IX, X - 21ª.Antologia: Bodas de Ouro: 25 anos de Literatura, Chapecó, SC: 2011

Fotografia: Escritores ACHE- Associação Chapecoense dos Escritores.1992. Lançamento da 4ª Antologia “Autores de Chapecó”[1]



[1] Pedro Alberice; Ricardo Padilha de Matos; Mara Paulina Arruda; Norberto Pontel;  Silvério Ribeiro da Costa, Jovani dos Santos;  Torres Pereira ; Afonso Martini. 


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